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Bom Retiro 958 Metros (Teatro da Vertigem) |
No domingo 8 de julho realizamos um pequeno passeio entre amigos, que são amantes do teatro e da arte, para São Paulo. Nesse passeio, assistimos à peça “Bom Retiro 958 Metros”, novo trabalho do Teatro da Vertigem, que se destaca como um dos principais grupos teatrais do país e se caracteriza pela exploração de ambientes inusitados para a execução de seus trabalhos. Sem dúvida alguma um espetáculo que merece a atenção de todos os que se interessam por teatro e também por São Paulo, haja vista que o grupo expõe fantasticamente as várias facetas da capital paulista.
Partimos da Oficina Oswald de Andrade para o local onde se iniciaria a peça. Chegando ao ponto de encontro ouvimos uma rádio tocando em volume alto e nos deparamos com uma moça sentada na frente de uma loja e esta permanecia imóvel. A peça começara e a principio nem havíamos notado. O fluxo de pessoas aumentou e chegaram alguns carregadores trazendo caixas grandes para descarregar os produtos na loja. O movimento no Bom Retiro se iniciou. A porta se abriu e a atenção se prendeu definitivamente na movimentação ocorrida destes e de futuras ações.
No decorrer de toda essa perambulação, percebemos diversas pessoas se movimentando. Havia a vigia (aquela que estava na frente apenas observando), depois veio à faxineira, a radialista, Isto é, desde a consumista eternamente insatisfeita à procura do vestido perfeito até a boliviana escravizada em sua máquina de costura. Com isso, percebemos que, a peça escancara os diversos personagens e suas realidades individuais dentro da realidade da “selva de pedra”, incluindo o rapaz que sempre procura pela sua pedra e que se funde a ela no final da trama.
Além disso, a peça faz um misto entre o presente e o passado... O que podemos dizer sobre a cena onde a representação do passado do bairro do Bom Retiro se atira do prédio, que dá lugar aos sem teto e viciados? Ou então o que podemos dizer a respeito do desfile fashion em plena avenida, trazendo a frase “No meio do caminho havia uma pedra”, permitindo a alusão ao poema do Carlos Drummond de Andrade, bem como à crueza dos tempos relacionando a pedra ao consumo de drogas?
É um espetáculo que nos encanta pela sua ousadia, que invade a metrópole em tempos onde artistas de rua são reprimidos com violência. É uma peça que cativa por mostrar de forma crua e fria a decadência, sem tempo para emoções, surpreendendo o público chamando-o para a razão constantemente em suas duas horas de teatro. Percebemos no decorrer da trama que os personagens são tão reais, eles instigam e prendem a nossa atenção direcionando-nos sempre para a próxima cena, próxima ação. Além dessas pessoas, o espetáculo conta com uma iluminação inesperada, utilizando “holofotes” em espaços determinados como lojas, corredores e postes públicos adaptados. E isto vem acompanhado da sonoplastia, do cenário bem como do figurino... E tudo isso em conjunto, transmite uma unidade, trabalho ímpar, permitindo-nos esquecer que é algo coletivo.
Recomendamos, seja você artista, arteiro ou apenas interessado por arte, que vivencie essa experiência memorável, que encanta e desperta a paixão pela arte, e, ainda mais, traz à tona a sensibilidade para a realidade caótica da “terra da garoa”, cobrando uma posição e ação dos nossos governantes.
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Anderson Borges de Santana
Professor da Rede de Ensino de Suzano, Graduado em Pedagogia (UMC), Pós-Graduado em Educação Especial (Uninove), participante da Diretoria Executiva da Associação Cultural Opereta, bem como do Núcleo Teatral e Comunicação da Opereta e integrante do Cia. Siso Teatral. Atualmente desenvolve o blog da Associação Cultural Opereta, bem como Cia. Siso Teatral .
Joyce Cristina Leme Gomes
Professora da Rede de Ensino de Poá, Graduada em Letras (UBC), Graduando em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda (UMC). É voluntária como Secretária na Diretoria Executiva, bem como na Comunicação da Organização Não Governamental (ONG) Associação Cultural Opereta. Atualmente desenvolve o blog da Associação Cultural Opereta, Joyce Gomes: Professora e Publicitária e Cantinho das Letras.