terça-feira, 28 de agosto de 2012

Aprender a ensinar e ensinar a aprender a ser humano, por Claudio Domingos Fernandes


discere docere et docens discere humanus*


Discurso de Posse

Senhores, o pai de nosso venerado fundador era um homem muito culto, além de muito excêntrico. Era, talvez, em sua época, por sua erudição, o personagem mais bem respeitado de nossa sociedade, e, entre todos, o mais concorrido orador. Discursava horas a fio sobre os mais variados temas. Sabia, como poucos, aliar seu vasto e profundo conhecimento à elegância no falar. Tratava com maestria e garbo de todo e qualquer assunto, dando a tudo um justo parecer. Mas nosso patrono não era apenas um erudito e admirável orador. Era, sobretudo, um apaixonado e confiante defensor de nossas potencialidades. Homem de largos horizontes científicos tinha profunda confiança no ser humano... Gostava muito, em seus discursos, de discorrer sobre a natureza humana: “Sobre o inescrutável mistério que a envolvia; sua imensurável grandeza e sua irremediável fragilidade”. Tudo, segundo ele devia conduzir ao mesmo ponto: “Resgatar o humano no homem”. E era isto que se devia “estudar e ensinar”. Para ele toda ação pedagógica, da doméstica à universitária, desta à mais alta especialização, em qualquer instância, em qualquer área do conhecimento, deveria chegar a isto: “ensinar-nos nossa condição humana, dar-nos instrumentos humanizadores”. E foram muitas as suas contribuições neste campo. Cabe aqui, apenas dizer algo sobre sua noção de educação. Ele defendia que somos seres naturalmente culturais; que nascer inacabados é nossa graça e humanizar-nos nosso destino: “Nascemos”, dizia, “para sermos protagonistas de nosso destino, que é ser algo de grandioso... E nisto se encerra um paradoxo fascinante que é a própria condição humana: não nascemos, como os outros seres, prontos, acabados, mas por fazer-se; e fazer-se é tornar-se humano.” Dizia ele: “Somos irremediavelmente destinados a algo que ainda não somos; que apenas vislumbramos: a condição humana não está plenamente dada.” Depois, evocando irremediável certeza de que podemos nos tornar humanos informava: “Somos seres de relação, estamos voltados para o mundo, para as coisas que nos rodeiam. Sobretudo, estamos voltados para nossos companheiros de destino, somos homens e mulheres com outros homens e outras mulheres..., só nos humanizamos solidariamente”. Confiante, então, de podermos alcançar nosso destino, creditava à educação o caminho mais seguro para nossa concretização: “É a educação que nos concretiza, que nos torna acabados. Sem educação somos apenas um com os outros seres. Educados somos um “plus”, um algo mais, nos projetamos e alargamos nossos horizontes, expandimos nossa liberdade, nos transcendemos”. O conhecimento, defendia nosso patrono, “é a chave que nos abre as portas de nosso sentido mais profundo. Sem conhecimento nada somos. Eis, portanto, o seu valor: dar-nos forma”.

Sobre estes princípios, senhoras e senhores, nosso fundador, criou este Instituto. “Nossa escola, nossa faculdade”, repetia constantemente, “deve primar pela formação que acrescente algo à nossa humanização”. E exigia que “toda pesquisa, toda reflexão, todo estudo aqui elaborados deveriam ser para construir homens e mulheres comprometidos com a universal dignidade que nos institui humanos”. “Em nossos bancos”, lembrava sempre: “Queremos ensinar e aprender a solidariedade que nos humaniza, queremos olhar para os que vivem sob o jugo da descriminalização, do preconceito, das injustiças de toda ordem, com especial carinho queremos voltar nossos estudos e dispor nossos conhecimentos aos menos favorecidos, àqueles que vivem sob o jugo da miséria econômica e cultural.”

Caríssimos, era convicção firme de nosso patrono e de nosso fundador, que o conhecimento que não elimina a dor e o sofrimento, frutos de nossa soberba e arrogância, é, na verdade “cegamento de nosso ser”. “Temos um grande desafio”, anunciou nosso fundador, no ato de fundação: “Descegar-nos!... Desvendar e produzir o humano que há em nós” e, “nada que mantenha ou conduza pessoas à miséria material ou cultural nos interessa produzir”.

Nestes termos, ao assumir, diante de todos, a reitoria deste nosso Centro de estudos, assumo o compromisso de zelar pelos valores que nos tornam uma Instituição que esta por nascer.

Rodner Lucio
* Aprender a ensinar e ensinar a aprender a ser humano.

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Claudio Domingos Fernandes
Formado em Filosofia (Licenciatura), casado, dois filhos, trabalha na Secretaria de Educação de São Paulo, leciona Filosofia no Ensino Médio. Coordena Oficinas Culturais na Associação Cultural Opereta, onde ensina Italiano. É membro do conselho do Instituto de Formação Augusto Boal. É membro fundador da Associação Cultural Rastilho (A.CURA). Lançou VACUOS MUNDI. E-mail:cdomimgosfernandes@uol.com.br

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