Que a cultura sempre foi pauta secundária na agenda política
brasileira já não é novidade. Mesmo com os avanços com o Ministério da Cultura
no governo Lula, é perceptível que há algumas barreiras que precisam ser
quebradas para que a arte efetivamente se desenvolva a partir de seus fazedores
com o apoio do Estado e não sob a sua tutela/controle.
Mas talvez eu não tenha competência para desmembrar a política cultural
nacional. Achando que eu possa fazer algumas considerações sobre a cultura
regional (Alto Tietê e os reflexos da capital nisso), acho que seria prudente
tecer alguns comentários que acho pertinente e assim prosseguirmos.
Fazer projeções é tarefa complexa, admito, mas pelo menos as
impressões podem ou não ser sepultadas a partir das atitudes de seus atores.
O Alto Tietê vai mal de cultura! E quando digo cultura deixo claro que
os seus fazedores estão na ativa, produzindo como dá, quando dá e com quem
pode. Então não são deles que estou falando... por enquanto.
Hoje, aquele conceito do pão e circo não está mais descarado como
antes. Ele está mais sutil. Mascaram as ninharias de políticas de balcão com
boa vontade governamental ou dão outro nome mais pomposo na esperança de
calarem seus fazedores. E está dando certo.
Cada vez mais somos ouvidos, mas estou começando a acreditar que é
exatamente pra que os governantes decifrem nossas ansiedades, nossos desejos
mais verdadeiros e traduzam para aquilo que lhes convém. E assim cooptam.
E em todo período eleitoral, caímos na ilusão novamente e nos
dividimos e nos diluímos e nos esquecemos. Aceitamos a contradição como algo
natural quando na realidade deveríamos crer na dialética. Ela sim nos faz
avançar e partilhar lutas em comum mesmo nas diferenças mais bruscas.
Não é por maldade dos fazedores, mas é porque o apelo capitalista, com
a ilusão que ele dá, causa uma certa nuvem nos olhos. Não vemos ainda que, (como
exemplo) por mais que estamos abrindo os shows dos grandes eventos municipais e
que isso dá certa visibilidade, o grande artista da indústria cultural ganha
por vezes R$ 80.000,00 de cachê e os da cidade R$ 1.000,00 no máximo.
Vendem aí a ilusão de que isso ajuda o currículo do artista e blá blá
blá. Não sei se o artista em questão acredita nisso, mas quem contrata com
certeza não acredita. O que ele precisa é “anuvear” os olhos do artista local.
Isso se dará em todas as vertentes: literatura, dança, teatro, artes
plásticas, vídeo e todas as ramificações que delas variam. Os tempos futuros
tendem a ser da mesma forma. Essa ilusão de que nós, fazedores, estamos cada
vez mais inclusos no pensamento de política pública, é falsa. Ainda estamos com
as nuvens coloridas e sem cheiro do capitalismo... e estamos nessa brisa.
Fernandes Junior – diretor do Teatro da Neura e curioso
20/11/2012
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Fernandes Junior
Licenciado e Bacharelado em Teatro pela Universidade Anhembi Morumbi além de Tecnólogo em Teatro pelo Colégio Estrutural, é diretor do Teatro da Neura e também ator. Curioso em políticas públicas para as artes, escreve no blog Ato Falho, pensamentos sobre esses temas. Colabora para a direção em outros projetos além de tentar manter certo ativismo cultural. Facebook: Fernandes Junior.
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