Já percebeu como às vezes caímos nessa de mania de perseguição do destino?
Parece que tudo nasceu pra acontecer com a gente!
Não to falando de fatalidades, não. To falando desses detalhes que irritam de uma forma que...Nossa! É a p**** da goteira que sempre vai pingar em você. A goteira da frente do açougue é a que mais me irrita. As pombas que não desviam nunca a rota e se preciso te engolem voando, mas não desviam. Daí você prefere pensar que é muito amor do Espirito Santo e que é Deus te provando através de um rato com asinhas. A porra da faixa de pedestre que sua chinela vai escorregar. Não escorregou nem com a velhinha de sacola, nem com a menina de sapatilha de plástico... Mas com você, escorrega.
Estava eu querendo cumprir a simples audácia de chegar até a estação quando me deparo com o palhaço que ta dançando na frente da ótica distribuindo pirulito. E ele vai mexer com quem na rua? Com você! E não adianta fingir demência ou a velha tática do "tô no celular". O palhaço vai parar você! Com aquele "pinta cara" escorrendo as 13h30m e você ainda consegue transitar pela crítica da "que maquiagem mal feita". Sorria, aceite o pirulito, talvez tenha que o abraçar e responder alguma besteira no microfone. Quem que gosta de ser exposto, caramba?
Juro que com todo o respeito que guardo aos moços da porta de ótica não consigo. Não p****! Que coisa chata! Daí você segue sua saga via estação e as pessoas seguem num ritmo de procissão admirável. Parece que eu consigo escutar a ladainha de tão pé anti pé que andam alguns. Daí tem o farol, a tia do milho que decide puxar o carrinho bem na hora que você ta passando. O fulano ou ciclano da época do colégio, que você já avistou a alguns metros e teve que segurar a sensação do “ainda não vi” até a hora do “oi” de milésimos de segundos. O outro palhaço da loja de eletro que sim, ele vai também mexer com você. Quando você começa a subir a passarela o trem sentido São Paulo já está saindo e você se lembra que viu no jornal que por problemas técnicos eles estão saindo de 30 em 30 minutos. Resolve sentar-se no banco recém reformado da plataforma e enquanto deixa de ficar p****, pensa que ok, tudo bem. Algumas coisas eu exagero mesmo. Sou meio dramático. E que estar no 12º dia sem fumar nem afetou meu humor. Que isso. Imagina.
Antônio Nicodemo
É ator e iniciou sua pesquisa como dramaturgo em 2004, aos dezessete anos, quando fundou a Cia Teatro da Neura, onde continua em pesquisa até hoje. Em 2011, iniciou suas experiências como diretor em A Menina da Cabeça de Bola (Prêmio Ensaiando Um Páis Melhor), e seguiu com a direção do novo espetáculo do grupo, O Velório (ProaC), onde também assina a dramaturgia. Atualmente, também mantém a página "Pra eu dormir" com contos, crônicas e pensamentos. Facebook: Antônio Lagreca Nicodemo.
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