segunda-feira, 16 de julho de 2012

Espaços de Intervenção: A arte que toma lugares públicos muda paisagens e dialoga com os habitantes da cidade


Epopeia Paulista, painel localizado na Estação da Luz do metrô, Maria Bonomi


Quando pensou a posição do Monumento às Bandeiras, uma homenagem aos sertanistas dos séculos 17 e 18, entregue a São Paulo em 1953, o escultor italiano radicalizado no Brasil Victor Brecheret fez uma única exigência: a cabeça da escultura principal da obra deveria estar voltada para o Pico do Jaraguá. O ponto mais alto da cidade era o primeiro que os bandeirantes vindos pelo rio Tietê avistavam quando retornavam de missões pelo interior do Brasil.

Antes mesmo de ser criado o termo site-specific, que define obras de arte pensadas para um lugar específico, em geral com grande circulação, dialogando com o espaço, o monumento de Brecheret, localizada no Ibirapuera, zona sul da metrópole, já podia ser classificado como tal, ou como arte pública. “As pessoas se identificam tanto com aquela escultura que a abraçam, tiram foto, andam ao redor, quase que fazem escaladas”, explica o professor de pós-graduação em arte pública da Escola de Comunicação e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP) João Spinelli.

O site-specific surge no final da década de 1960 e início da de 1970 na esteira do minimalismo, que ressalta formas elementares de cortes geométricos. Ele se insere num momento em que a contracultura ganha força, valores artísticos são colocados em xeque, a pop art desponta e os meios de comunicação de massa se tornam cada dia mais presentes na vida das pessoas. Inicia-se a era da profusão de imagens efêmeras, intensificada nos últimos 20 anos com a internet.

É a arte feita e mostrada fora dos espaços tradicionalmente dedicados a ela – museus e galerias -, mudando radicalmente a paisagem a seu entorno. “Assim como precisamos de muitos hospitais, escolas, melhorias urbanísticas, precisamos de melhorias paisagísticas e também desse diálogo dos cidadãos com os artistas. Eles vivificam a cidade”, acrescenta o professor da ECA.

Essa comunicação com o público, no entanto, em alguns casos, como o do escultor norte-americano Richard Serra, é feita por meio do conflito. Considerado um dos mais importantes artistas contemporâneos, Serra colocou, em 1981, um extenso arco de aço no meio da Federal Plaza, em Nova York. A intervenção gerou indignação de alguns moradores, que entendiam como um obstáculo no caminho e não como um convite à reflexão sobre o contexto político, cultural, social daquele momento, materializado no trabalho de Serra.

Se por um lado a arte pública provoca embates, por outro pode mudar a vida de uma comunidade inteira. Um exemplo disso é a intervenção de Ruy Ohtake, em Heliópolis, região que tem cerca de 120 mil habitantes, localizada na zona sul de São Paulo. O arquiteto paulistano projetou e construiu no local um conjunto de edifícios circulares onde funcionam apartamentos residências, biblioteca, creches, escolas técnicas, em um terreno de 35 mil metros quadrados.

A relação de Ohtake com a comunidade de Heliópolis começou em 2003 quando ele foi convidado a mudar a fachada de casas da região. O projeto A Cor em Heliópolis, que contou com o trabalho de oito pintores locais, deu início então a esse processo de revitalização e embelezamento.

Também em São Paulo, intervenções de artista ítalo-brasileira Maria Bonomi mudam a paisagem urbana, criando diálogos com os transeuntes, como é o caso de Epopeia Paulista, construído em 2004 e instalado na Estação da Luz. “Acredito piamente que a arte é um item essencial para a vida das pessoas; aliás, mais do que isso ela é um direito à sensibilização e ao conhecimento de todo ser em sua vida tanto a higiene, a alimentação etc. a arte forma, informa e dá sentido à energia do mundo”, ressalta Maria Bonomi.

No Brasil, outros artistas como Carmela Gross, José Rezende, Grupo Tupinão Dá, Osgemeos, Binho Ribeiro, Alex Valluari, Carlos Fajardo e Regina Silveira se inserem nesse grupo, com instalações, painéis, arte em muros, praças, estações de trem.

Escadas, intervenção da artista plástica Carmela Gross, no Sesc Belenzinho
O Beco do Batman, na Vila Madalena, virou referência de ocupação do espaço público após grafiteiros e artistas plásticos revitalizarem a antiga viela

Fonte: Revista E. Espaços de Intervenção. Sesc. São Paulo: Junho/2012.

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