segunda-feira, 16 de julho de 2012

A trajetória do rei: Luiz Gonzaga foi responsável por difundir o baião e a cultura nordestina pelo Brasil afora


O caminho do futuro rei do baião, Luiz Gonzaga – nascido em Exu, sertão de Pernambuco em 1912, e conhecido como Lua –, começou a ser traçado quando ele deixou de servir o exército depois de nove anos e passou a ganhar a vida com a sanfona. Em 1939, nos bares do Mangue, bairro mais “quente” do Rio de Janeiro, tocava de tudo, de blues a fox trot. 



Um dia, um grupo de cearenses pediu que apresentasse alguma coisa lá do seu pé de serra. O sanfoneiro atendeu aos pedidos e fez grande sucesso. Daí em diante, voltou às suas origens nordestinas e passou a incluir no repertório tudo o que aprendeu com seu pai, Januário – o sanfoneiro mais famoso de Exu. 


Em 1941, gravou o primeiro disco pela RCA Victor e quatro anos depois já tinha seu próprio programa na Rádio Nacional. Apesar do sucesso, seus discos ainda eram todos instrumentais. Somente em 1946, após simular um contrato com a Odeon, conseguiu o aval de sua gravadora para também cantar. 

Lua já fazia sucesso com Dezessete e Setecentos e Dança Mariquinha, feita com a parceria de Miguel Lima. Mas o que ele queria mesmo era encontrar um parceiro ideal para dar cabo de um objetivo: cantar as coisas do Nordeste. E, apesar do talento, Miguel não era essa pessoa. 

Para seguir com seus planos, Gonzaga propôs uma parceria com Lauro Maia. Ele não aceitou, mas recomendou que procurasse seu cunhado, o advogado cearense Humberto Teixeira. Quando se encontraram, em apenas dez minutos, os dois compuseram No Meu Pé de Serra. “Eu senti que estava nas mãos do autor que sempre sonhara”, disse Luiz à jornalista francesa Dominique Dreyfus, autora de Vida do Viajante: A Saga de Luiz Gonzaga (Editora 34, 1996).

A parceria rendeu muitos sucessos, como Assum Preto, Juazeiro e Asa Branca. Lançada em 1947, esta última, sem dúvida, tornou-se a música mais famosa de Gonzaga, reconhecida por sintetizar o drama da seca e a saudade do migrante nordestino, e rendeu ao rei do baião a participação no filme Este Mundo é um Pandeiro (1947), de Watson Macedo.

Depois do sucesso de Asa Branca, no final da década de 1940, Luiz Gonzaga seguiu para Exu, sua terra natal. De passagem no Recife, um futuro médico o procurou. Era Zé Dantas com a música Vem Morena, que deixou o rei do baião encantado. Com medo de perder a mesada do pai, que pagava a faculdade de medicina, ele pediu que seu nome fosse ocultado pelo sanfoneiro. Anos mais tarde, já no Rio de Janeiro e trabalhando no Hospital do Servidor, Zédantas – como assinava suas músicas – não largou a medicina nem a música. 

Enquanto isso, a parceria de Gonzaga com Humberto Teixeira já não era a mesma. Este assumia, em 1952, o cargo de deputado. Nessa época era lançado o último disco assinado pelos dois, com as músicas Respeita Januário e Légua Tirana. Era a hora e a vez de Zédantas. O trabalho em conjunto resultou em muitos sucessos, como O Xote das Meninas, Sabiá, Riacho do Navio. 

“Essa parceria trouxe elementos de crítica social e do protesto”, avalia o jornalista e historiador Paulo César de Araújo, ao citar A Volta da Asa Branca e Vozes da Seca: “Seu doutô os nordestinos / Têm muita gratidão / Pelo auxílio dos sulistas / Nesta seca no sertão / Mas doutô uma esmola / A um home qui é são / Ou lhe mata de vergonha / Ou vicia o cidadão...”.

Depois de passar um período quase esquecido, o rei foi reconhecido por grandes nomes da MPB, recebeu homenagens e gravou muitos duetos com seus discípulos, como Carmélia Alves, Dominguinhos, Elba Ramalho, Fagner e Milton Nascimento. Apresentou-se em Paris no Zénith, Olympia e na Grande Halle de La Villette. Em 1984, recebeu o Prêmio Shell, com o qual, antes dele, somente Pixinguinha, Dorival Caymmi e Tom Jobim haviam sido agraciados. 

E voltou a gravar músicas inéditas e fazer sucesso com elas, em especial com os discos Tá Danado de Bom e Forró de Cabo a Rabo. O rei do baião faleceu em 1989. Mas como ele mesmo cantou: “Luiz Gonzaga não morreu / Nem a sanfona dele desapareceu...”.

Em 2012, em homenagem ao seu centenário, deve ser lançado, no segundo semestre, Gonzaga – de Pai para Filho, novo longa de Breno Silveira, mesmo diretor de Dois Filhos de Francisco (2005). O filme pretende retratar a relação entre o sanfoneiro Luiz Gonzaga e seu filho, o cantor e compositor Gonzaguinha (1945-1991).





Fonte: Revista E

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